Quem ocupa o trono tem culpa?
Autor: Ariel Arigony [1]
Um dia normal em Santa Maria. Um dia normal para um estudante de Santa Maria. Um dia, em tese, para ser marco para os calouros de Universidades e Faculdades do Coração do Rio Grande. Um dia normal na Cidade Cultura, destaque no cenário organizacional do Estado pela sua grande Indústria. Mas não qualquer indústria, exportadora de qualquer matéria-prima, mas sim, aquela que produz e exporta a principal vantagem competitiva que existe, os estudantes. Ou, melhor, o ativo mais intangível de qualquer organização, seja pública, privada, governamental ou não: o conhecimento.
E, como Santa Maria deve tratar, ou deveria, os trotes acadêmicos na Praça Saturnino de Brito, o “passaporte” – que poderia ser cultural – para a nova e promissora jornada dessa construção?
Peço desculpas ao leitor pela minha ingênua opinião, mas não acredito que a melhor medida seria a de alterar o local do trote. Realmente precisamos de um espaço de lazer, direito social assegurado pela Constituição Federal, aliás. Precisamos de infraestrutura e medidas públicas. Mas, também, devemos considerar a tradição que já ocorre há anos no mesmo local. Sim, por certo, contudo, nos unindo contra os extremos, apostando na conscientização da juventude. Entretenimento, afinal, nem de longe deve combinar com desrespeito a nossa casa, muito menos essa que acolhe intelecto e produção de todas as partes.
Mas a violência, crime e trafico de drogas e, para agravar ainda mais a situação, o homicídio do dia 15 de agosto, que legitima o carimbo de caos onde deveríamos contemplar vitalidade, vontade, energia, novas amizades e um novo tratado de pertencimento com a cidade universitária, que nos promoverá, daqui a “alguns dias” ao mercado de trabalho, são nossa culpa? Tudo bem que realizar o trote em um local fechado possibilitaria para a Brigada Militar um policiamento muito mais efetivo na identificação e na triagem das pessoas, admiro muito o trabalho realizado pelos PMS, mas os estudantes não são os responsáveis por essas enfermidades, muito menos pelos crimes. Já dizia a canção dos Engenheiros: “Quem ocupa o trono tem culpa. Quem oculta o crime também. Quem duvida da vida tem culpa. Quem evita a dúvida também tem”. Que do berço, das IEs e da conscientização, componhamos cara e ato de cidadãos de bem, que inocentes não paguem o preço e que da intitulada mais controversa tradição do ensino superior brasileiro, façamos uma festa cultural no calendário municipal e que essa sirva de exemplo. É o que eu espero. E… “somos quem podemos ser”.
[1] Graduando do segundo semestre do curso de direito da Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA. Estagiário voluntario na 2º Delegacia de Policia de Santa Maria. Aluno-membro do Núcleo de Estudo em Webcidadania da FADISMA.